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Crise afetará movimento de fusões e aquisições



18 / 02 / 2009
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 Foi justamente em setembro do ano passado o mês em que a crise financeira internacional veio à tona e para a maioria das pessoas deixou de ser a ameaça, que já atormentava investidores e analistas mundo afora, para entrar na pauta diária. O cenário tinha diversos elementos de um colapso, que só não veio graças à intervenção estatal. Bolsas desabaram, empresas começaram a anunciar demissões, previsões de crescimento econômico foram revistas para baixo e por fim a recessão chegou. Mas exatamente no mês de setembro foi divulgado o resultado parcial da pesquisa feita pela KPMG sobre o mercado de fusões e aquisições em 2008. Nele, em função do aumento considerável, o setor de Educação Superior passou a merecer espaço próprio. Foram 41 fusões ou aquisições registradas no período, alta de 115% em comparação com o ano de 2007.

Como justificar números tão expressivos quando a maior crise do sistema financeiro internacional desde a quebra da bolsa de Nova York em 1929 surgia? Mesmo que a crise já afetasse muitos setores, ela ainda não tinha mostrado sua face mais aguda e por isso o setor já espera que os números desse ano sejam bem mais modestos. "Esse número (divulgado pela KPMG) veio antes da crise. No momento em que essa conjuntura se deflagra, há paralisação desse movimento. Isso vai cair. Os financiamentos já diminuíram e mesmo os grupos que captaram dinheiro na bolsa de valores estão esperando para ver como vai ficar o cenário", afirma, Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo), que faz menção aos quatro grupos que lançaram ações na bolsa de valores.

Esse movimento dos grupos Estácio, Anhanguera, Sebe e Kroton é apontado como principal responsável pelo número de aquisições em 2008. Segundo a KPMG, as quatro captaram em 2007 R$ 2 bilhões, o que teria sido a lenha na fogueira das compras. "Esses grupos foram à Bolsa captar recursos. Nos planos deles, que foi 'vendido' para os investidores, estava previsto programa de aquisições de outras entidades. Já era previsto isso, essa consolidação do mercado, a partir de 2007 e que isso continuasse em 2008", explica Marcos Boscolo, sócio da KPMG responsável pelo setor de educacional. Mas Capelato acredita que o movimento de fusões e aquisições deva sofrer neste ano. Ele estima queda de cerca de 50% no número de aquisições, embora acredite que a própria crise contribua para crescimento das fusões. "Algumas instituições podem buscar na fusão de ativos uma forma de enfrentar a conjuntura", resume ele.

Para Gabriel Mario Rodrigues, presidente da ABMES (Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior), ainda é cedo para se saber com certeza de que forma a crise vai afetar as IES (Instituições de Ensino Superior) particulares. "Evidente que muita gente vai perder o emprego e isso pode ter reflexo na área educacional, vamos ver isso no decorrer do ano", diz Rodrigues. Mesmo com boa pitada de cautela, ele reconhece que as instituições que não se prepararem enfrentarão problemas nos próximos meses. "Até março teremos uma noção mais clara disso", acrescentou Rodrigues.

O presidente da ABMES acredita também na tese de manutenção ou mesmo algum crescimento no número de fusões como alternativa à crise ao comentar os números divulgados pela KPMG. "(O crescimento registrado em 2008 em relação àquele verificado em 2007) tem a ver com a consolidação do setor. É a mesma coisa que é observada em outros setores, como o bancário, por exemplo. Teremos grandes jogadores no lugar das escolas pequenas. E hoje, metade da oferta é feita por instituições pequenas, localizadas no interior, quem têm entre 500 e mil alunos. Elas provavelmente terão problemas num futuro próximo", adverte Rodrigues. Boscolo revela que essa possível tendência de crescimento das fusões já é verificada nos levantamentos da KPMG. "Acho que a segunda onda de fusões e aquisições dever ter um processo maior de fusões. As instituições vão procurar se juntar e assim crescer sem que haja a necessidade de desembolsar grandes quantias. Este é um movimento que já percebemos", declara ele.

O sócio da KPMG responsável pelo setor de educacional explica que parte dessas pequenas instituições já enfrentam problemas e que a situação crítica de algumas delas foi o elemento que engrossou o volume de aquisições registrado até aqui pela pesquisa. "Parte desse setor não conta com gestão profissionalizada como outros segmentos. Muitas vezes são instituições baseadas numa administração familiar que deixou de cuidar da gestão. Há entidades que por essa competição e crise acabam em situação muito difícil. Algumas dessas aquisições foram feitas sem que a parte compradora tenha tido de desembolsar grandes quantias", declarou ele, que falou a respeito de uma instituição que teria sido "comprada" pela quantia simbólica de R$ 1. "Houve um caso em que o desconforto dos gestores da instituição era tamanho que ela foi comprada por R$ 1. Havia dívidas no valor total de R$ 4 milhões e os compradores simplesmente assumiram a dívida para ficar com a instituição. O que tem acontecido é isso, instituições em situação tão ruim que o valor para aquisição delas não tem sido tão grande", afirma Boscolo.

Mais crédito

Embora tenham visões ligeiramente diferentes em relação aos efeitos imediatos da crise sobre as IES particulares, tanto Capelato quanto Rodrigues falam a respeito da necessidade de mais crédito para o setor para evitar problemas maiores no decorrer do ano. "O governo precisa encontrar mecanismos de ajuda e empréstimo como faz com os outros setores. Temos instituições que estão com problemas, precisam de empréstimo a preço baixo. Tem instituição aí de 40 anos de existência que não consegue pagar salários", diz Rodrigues.

Capelato assegura que a dificuldade para o setor é anterior à própria crise financeira e que a ela se agravará com a conjuntura. Segundo ele, 40% das 558 IES que fazem parte do Semesp já reportaram queda da ordem de 30% no número de rematrículas e ingressos. Além disso, ele acredita que haverá problemas de outros tipos. "Esperamos crescimento da inadimplência também. É um problema que já existe, mas que se acentuará", prevê Capelato. De acordo com suas projeções, o índice de inadimplência, que hoje é de 22,3%, pode subir para 25% em 2009. "Aí vira uma bola de neve. Junta tudo isso, é complicadíssimo, porque por um lado você tem a queda nos ingressos e rematrículas e por outro cresce a inadimplência. A situação (para as IES particulares) vai piorar mais", acrescenta ele.

A perspectiva para o ano fez com que a ABMES buscasse formas de viabilizar linhas de crédito mais baratas, tanto para a gestão, quanto para os estudantes. Capelato disse que a associação esteve em contato com o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro Filho, na tentativa de articular novas linhas de crédito junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). A idéia é trazer o ministro da Educação, Fernando Haddad para esse esforço.

Fonte: http://www.universia.com.br/materia/materia.jsp?materia=17391

Por Marcel Frota

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